Poesia de Sidnei Azambuja

ENTRE O OUTONO E O INVERNO
Uruguaiana meu pago,
Porto Alegre minha querência!
No decorrer da existência
Recuerdos largos eu trago.
Tomando meu mate-amargo
Pelas seis, noite escura;
O canto das saracuras,
No riacho que corre perto,
Me reponta ao rumo certo
Dos meus tempos de ventura.

Vejo o dia clareando
E aos pouquito a boieira
Sumindo na polvadeira
Do raiar que vem chegando.
Solito sigo mateando.
Já são quase sete horas;
Dou uma bombeada pra fora
Apenas silhuetas vejo;
O horizonte em lampejo
Mandando a noite embora.

Já estaria campereando
Se fossem tempos de outrora;
Recorridas campo a fora,
Ao trotezito andando;
Sempre atento, bem mirando
Sangas, coxilhas, canhadas,
Sem perder nesas volteadas
QUalquer detalhe suspeito;
Atento, em olhar perfeito,
Numa buena campereada.

Mas isso foi no passado!
Tranco o garrão no presente,
O friozito que se sente
Nestes dias mais gelados,
Temos que ter mais cuidado.
Vai-se mandando o outono
E o inverno, num entono
Nos achega desafiando;
Mas vamos seguir pelhando
Pra vida não ter estorno.

As noites bem mais extensas
Entre o outono e o inverno,
E o friozito nada terno
Nos coloca numa prensa
E as noites longas, intensas
Deixam os dias limitados;
Nem sempre ensolarados
Pra aliviar a frialdade,
Deixando mais à vontade
Todo guasca atabafado.

Mas todo o inverno passa,
Como as demais estações,
Pra alegrar os corações
Do que teremos de graça,
A primavera lindaça
Virá espalhando flores
E a paisagem em novas cores,
Da cidade ao campo a fora,
Mandará o inverno embora
Pra o amor dos desamores.